Zeka Sixx faz literatura punk
Faça você mesmo.
Eis um dos pilares do punk, um movimento contracultural que surgiu no final dos anos setenta como uma resposta mais agressiva e questionadora aos ideais pacíficos e otimistas dos hippies. Hoje em dia, as tribos – que pareciam tão claramente definidas em um passado nem tão remoto – aparentemente fundiram-se e misturaram-se, não sendo mais tão simples classificar o estilo e a ideologia de alguém.
Os princípios básicos destas tribos seguem atualíssimos e em vigor. Contudo, é através de sua atitude, e de sua forma de ver, agir e reagir, que ainda é possível estabelecer onde, e em qual sistema de ideias, determinada pessoa se enquadra.
Deste modo, se eu tivesse de inserir o escritor gaúcho Zeka Sixx em algum movimento cultural, eu afirmaria sem medo de errar: Zeka faz literatura punk. Literatura punk legítima e pervertida, da concepção até o resultado final.
O Caminho dos Excessos, que marca a estreia de Zeka Sixx na literatura nacional, é um livro punk em forma e conteúdo. Através dos trinta e dois contos que compõem a obra, Zeka retrata uma perseguição implacável – e desesperada – por um modo de viver alucinado e inconsequente, extraindo da própria vida o que existe de mais selvagem, intenso e caótico. Sua fonte de inspiração é, sem dúvidas, uma fonte que verte álcool.
Zeka Sixx não criou apenas os contos do livro O Caminho dos Excessos. Criou também todo o resto – desde o projeto gráfico, passando pela capa, diagramação, registros editoriais e impressão. Zeka fez, e fez tudo sozinho. Creio que, justamente por isso, o livro passe ao leitor a sinceridade saliente que apenas obras cruas, cruéis e corajosas são capazes de passar.
Zeka Sixx não teme colocar a intuição acima da razão, o estilo acima da técnica, o instinto acima do raciocínio. Sua honestidade pulsa e vibra de maneira contundente. É perceptível que o autor não (se) permitiu impor qualquer espécie de censura em seu texto; não há concessões na obra O Caminho dos Excessos. Zeka não enfeita palavras, e nem tenta colocar um casaco sobre a moça nua. Tudo o que deve ser dito; tudo o que precisa ser dito; está ali. E o que não deve e não precisa, também está. Se é inadequado ou não; se é conveniente ou não; se é politicamente correto ou não; Zeka está nem aí.
Porém, apesar de afirmar com plena convicção que seu livro de estreia é literatura punk pura e cristalina, sabemos que rotular, classificar, etiquetar e catalogar acaba sempre por empobrecer a arte. Pessoas, livros e histórias não são produtos industrializados, passíveis de descrições sucintas e levianas. Mas nem isso o autor parece temer.
Por estas, e por muitas outras razões, O Caminho dos Excessos é um livro que me surpreendeu por, deliberadamente, abrir mão de tentar se encaixar em padrões estéticos socialmente aceitáveis. E Zeka Sixx, o autor por trás da obra, me surpreendeu igualmente pela sua veia questionadora, sua coragem em assumir riscos, sua facilidade em desmoralizar a ordem, e bagunçar com classe e com convicção nosso status quo.
O mundo precisa desesperadamente de escritores insurgentes, desobedientes, transgressores. Porque este é o papel dos escritores: subverter, desconstruir, ir pela contramão. E por isso toda literatura que se preze deve ser punk, deve ser agressiva, deve ser furiosa e ameaçadora.
Uma literatura comportada, baseada na paz e no amor, feita com açúcar e com afeto por autores submissos e disciplinados, não faz diferença nenhuma no fim das contas.
E isso é inadmissível, como Zeka Sixx bem sabe.
por Jana Lauxen
* Saiba mais sobre Zeka Sixx e O Caminho dos Excessos acessando www.zekasixx.wix.com/ocaminhodosexcessos