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Parte Um – O Monte Roraima

Parte Um – O Monte Roraima

Sibéria, 13 de dezembro de 2060.

Andreiev Melochenko[1]


Os quatro paraquedistas realizaram um salto noturno. O pouso ocorreu sem alterações, apesar da pouca visibilidade provocada pela neblina. A dificuldade do SLOp noturno denota uma ação executada por profissionais experientes. Os velames foram recolhidos e queimados no cume do Monte Roraima. Os paraquedistas pouco conversaram naquela oportunidade, iniciaram a descida do íngreme monte logo após se certificarem de que todo o material havia sido consumido pelas chamas. Na época, o local era habitado pelo “povo do ápice da montanha”, os ingarikós. A história oral da tribo revela que um único indígena esteve próximo dos paraquedistas, os quais não perceberam a atenta observação em virtude da densidade das nuvens, e devem ter atribuído o movimento dos arbustos ao vento ou aos animais selvagens da região. O quarteto seguiu silenciosamente na direção do rio Cotingo, provavelmente, seguiriam pelo rio Jufari até encontrar as caudalosas águas do Negro. Carregavam uma caixa semelhante a um ataúde e pareciam portar fuzis Colt M16, arma utilizada pelos americanos na Guerra do Vietnã. O filho de Akawaio conta que o pai repetiu diversas vezes ‘pi ulia necras’ antes do seu desaparecimento na fronteira com a antiga Venezuela, deixando gravado numa pedra da savana roraimense a expressão. O salto ocorreu no verão de 1977. A data é confirmada por descendentes dos moradores da antiga Cacaraí, cidade situada nas margens do rio Jufari. Os antigos habitantes teriam relatado um contato com quatro homens brancos que aportaram nas barrancas do rio numa pequena canoa de madeira. Os inusitados visitantes buscavam ajuda para um dos integrantes do grupo que convalescia de febre alta e calafrios intensos. A malária foi tratada a base de chá feito com da casca de sucuba e ramos de saracura-mirá, plantas medicinais utilizadas na época. Dias depois, os desconhecidos continuaram a descida do rio; carregavam uma grande caixa metálica e seguramente portavam armas longas. Acredita-se que o destino mais preciso seria Manaus pelo trajeto fluvial. Afinal, dificilmente sobreviveriam acaso resolvessem seguir as trilhas em terra firme na selva amazônica, caminho bastante perigoso até para os nativos.

[1] Andrey Régis de Melo

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