E aquela promessa?
Como muitos sabem, é nossa capacidade de esquecer que nos permite sair do presente, revisitar o passado e nos projetarmos no futuro. É esse potencial de esquecimento, de criar uma falta no espaço do imediato, portanto, que nos torna humanos, sendo inerente à concepção do que é humano a capacidade de significar nossa existência num constante exercício dialético entre passado e futuro.
Exercício dialético de criação de cultura, de humanização do mundo que se dá no viver entre outros que conosco se assemelham em essência, e que, justamente por isso, nos garantem referências de significação comuns para que não nos percamos no vácuo narcísico de uma individualidade sem gravidade. Diz-se, pois, de uma comum unidade que se ergue em torno das promessas que se fazem diante do abismo mortífero de uma vida sem esquecimento e, por isso, sem passado e sem futuro, reduzida ao imediato da necessidade própria à condição do animal irracional e amoral.
Promessa comum, com-promisso que permite a imortalidade possível do que é humano, a constância de um devir que prepara a existência de gerações futuras. Com-prometimento que nos garante viver entre outros e assim construir uma história que em seu sempre e renovado fim e começo se mostre coerente sob nosso olhar.
Sem isso, não se pode falar em existência que seja humana. Aliás, não se pode nem falar em falar, porque sem a comum promessa não há comunicação possível, restando apenas a desconexão de tartamudeios bárbaros.
Tartamudeios bárbaros que se manifestam na banalização da violência, no empuxo pelo imediato e pela desresponsabilização passiva das massas. No gosto pela incoerência do bizarro, a partir do qual se diagnostica a esquizofrenia que arruína as possibilidades da promessa capaz de nos reunir numa comum humanidade, reduzindo-nos à solidão mortífera do imediato de nossas necessidades, sempre renovadas num processo autofágico em que nos consumimos na ilusão de consumir.
Barroso da Costa