Pós-modernidade
Praça Sete, região central de Belo Horizonte, 9:00 horas. Dirijo-me para o serviço enquanto converso ao celular. O burburinho é ensurdecedor. – Marque a reunião para as onze… Uma buzina prolongada. – Hein, Marcelo? Não escutei, me desculpe… Eu… Freada brusca. – Hein? É… eu tô no Centro… Sei… Sei…
Fragmento do conto "Ele", de Franz Kafka
“Tem dois inimigos: o primeiro ameaça-o por trás, desde as origens; o segundo fecha-lhe o caminho para diante. Luta contra ambos. Na realidade, o primeiro apóia-o em sua luta contra o segundo, quer impeli-lo para diante e da mesma maneira o segundo o apóia em sua luta contra o primeiro,
F.D.P
F.D.P.[1] Já podia ouvir o barulho das sirenes que se aproximavam do pé do morro. F.D.P. passou a mão na barriga e percebeu que o sangue não parou de descer. Não dava mais para correr, sentia-se cansado. Só podia ficar ali, sentado no canto escuro do Beco da Saudade, que
Aposentadoria
Aposentadoria[1] Raimundo Pereira da Silva é mais um dos rostos na multidão que habita uma das capitais de um grande estado que faz parte de um grande país. Todos os dias, Raimundo acordava às cinco e meia da manhã, pegava o metrô e mais um ônibus, chegando à
Donos do poder, manipuladores de sentidos e usurpadores de realidade: o Brasil através do espelho
Donos do poder, manipuladores de sentidos e usurpadores de realidade: o Brasil através do espelho[1] Nada mais humano que a palavra, justamente o fio com que nos orientamos no mundo ao tecermos uma realidade apartada da natureza. Noutros termos, se a consciência de nossa existência nos libertou de um eterno
Dos limites do direito e sobre como gostamos de ser enganados
Dos limites do direito e sobre como gostamos de ser enganados[1] Tratando de alguns vezos do legislador penal latino-americano, em seu “Em busca das penas perdidas”, Zaffaroni o equipara ao caçador paleolítico, que espera capturar sua presa assim que a desenha na parede de sua caverna[i]. A analogia é excelente,
De vinganças públicas e justiças privadas: o fetiche punitivista e o colapso do estado de direito
De vinganças públicas e justiças privadas: o fetiche punitivista e o colapso do estado de direito[1] O estado de incerteza e insegurança causado pelo atual cenário político, econômico e social permitem dizer que a democracia brasileira talvez enfrente sua pior crise desde a promulgação da Constituição de 1988. Os tempos
N0ssa expulsão do paraíso
Nossa expulsão do paraíso[1] Uma das coisas mais interessantes sobre as quais a Psicanálise me fez pensar diz respeito à nossa expulsão do Paraíso. Isso mesmo. Sobre aquele lance de comer a maçã proibida e, a partir de então, ter vergonha de nossos corpos nus, ter de trabalhar para comer,
Seres à beira do abismo
Seres à beira do abismo[1] “Já perscrutamos bastante as profundezas dessa consciência e é chegado o momento de continuarmos a examiná-la. Não o fazemos sem emoção ou estremecimento. Nada existe mais terrível que esse tipo de contemplação. Os olhos do espírito não podem encontrar em nenhum lugar nada mais ofuscante,
Nada
Nada Isso que me faz desejar tudo Menos o nada Nada que já tenho fundo E, se tudo tivesse, Nada desejaria Não seria Esse tudo ou nada – a ter Esse nada e tudo – a desejar.