manifesto

Manifesto Impublicável

Frente à dúvida incessante, que visam ampliar, Os Impublicáveis apresentam este Manifesto, a partir do qual pretendem inaugurar um debate acerca do que é impublicável, lançando novo olhar e voz num terreno de sombras, som e fúria.

Com este fim, toma-se o impublicável como aquilo de que se sabe, mas não se pode dizer. Trata-se do que existe, embora tenha sua aparição barrada pelos limites da publicação e do contexto sócio-histórico em que esta se dá.

É o que vezes ou outra escapa à consciência e aos padrões de costumes impostos pelos interesses dos que detêm o poder. Está implicitamente negado pelo que é institucionalmente dito. Trata-se daquilo que cria espaço onde ele não existe, mostrando-se incompreensível por excesso de clareza. É o que se critica justamente porque se morre de vontade – e de medo – de fazê-lo.

Impublicável é aquilo contra o que a grande mídia sempre oferece sete motivos, porque desfaz a limpeza e perturba o conforto do ensaio na ilha de Caras.

É o miserável no shopping center, o menino de rua visto através da janela fechada de um carro, a criança assassinada com um tiro na nuca, o mal-estar que nem Prozac consegue tirar. É a morte do velho no corredor do hospital, o rio fétido que ameaça inundar uma loja chique, a tira de papel higiênico com a ponta molhada que ficou presa à saia da grã-fina.

Impublicáveis são as celas superlotadas de que o banqueiro escapou pela prescrição. É a miséria de muitos, às custas da qual se extrai a brancura dos colarinhos de poucos.

Impublicável é o resto que invariavelmente subsiste; que, como nós, vezes ou outra se aproveita do movimento do texto para emergir nas entrelinhas e tentar subverter o sentido posto.

Os Impublicáveis