Relicário

Parte Quatro – O Político

Sibéria, 13 de dezembro de 2060.

Andreiev Melochenko[1]

Décadas depois, Mr. More chefiava o NCS (Serviço Nacional Clandestino) da CIA, ramo encarregado de operações secretas, responsável por golpes, atentados e estranhos assassinatos no globo terrestre. Havia se especializado em guerra não convencional, era autor do ‘Special Unconventional Warfare’. O manual conhecido como TC 18-01 era a bíblia das insurreições, fatores psicológicos-chave, mudança de percepção da população, difusão de informações falsas em mídias sociais, o agente aplicava como ninguém as táticas de abordagem indireta, dominava a estratégia de disseminar um verdadeiro vírus para modificação do sentimento político nos espaços internacionais em que havia interesse americano, tudo sem a necessidade de um único tiro de fuzil. Em janeiro de 2013, Mr. More produziu um relatório sobre a necessidade de intervenção no Brasil. Em junho daquele ano, o maior país latino-americano entrou em convulsão, o povo foi às ruas e a aprovação da governante entrou em vertiginoso declínio até o impeachment. A democracia brasileira presenciou o desmoronar dos seus alicerces. O vazio político e a ascensão do autoritarismo apresentavam seus primeiros efeitos, o que ratificava a doutrina insurrecional da CIA. Mr. More, enquanto solitariamente coçava o saco, abriu a gaveta e apanhou um robusto Monterrey. Umedeceu a cabeça, guilhotinou o cubano com perfeição, deu o primeiro tiro enquanto recordava do SHIT B. Estava preocupado com o destempero verbal das entrevistas do pupilo que idolatrava torturadores e ditadores. “God above all”. Apesar da costumeira frieza, demonstrava inquietação com os desdobramentos finais daquela missão desenvolvida durante toda a sua carreira no serviço de inteligência. Ajeitou vagarosamente as bolas; sentiu um leve tremor quando debruçou as mãos sobre o teclado. Aquela sensação o conduziu à velha experiência na selva úmida; produziu o requerimento secreto, precisava ter acesso à íntegra dos nomes do programa SHIT B, pensou na jovem figura do procurador brasileiro, meia-hora depois recebia autorização para acessar a plataforma JUDGE LJ SHIT B. “Son of a bitch!”, os nomes mais famosos do cenário político-jurídico estavam listados na planilha; acalmou-se e refletiu sobre a possibilidade de êxito do programa. Ligou com urgência para o chefe. 

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[1] Andrey Régis de Melo

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