Robert de Andrade

Peixinhos de Ouro

Cem anos de solidão é, sem dúvida, um dos melhores livros que já li. Jamais vou me esquecer do Coronel Aureliano Buendía, que morreu sozinho, fazendo peixinhos de ouro.  O mais incrível desta passagem é que ele vendia os peixinhos por uma moeda de ouro, dela fazia outro peixe e seguia nesse círculo vicioso.

Muitas vezes me pergunto se o que tenho feito não é algo parecido ao que o coronel fazia no livro; repetindo as tarefas de forma mecânica e alienada. Os jornais me parecem assim, a moda e até a mesmo a natureza.  Será então que tudo está pronto e iremos eternamente repetir?

Por outro lado, podemos considerar que a tarefa do Aureliano era, acima de tudo, o fazer. Ele tinha duas escolhas: preencher o seu tempo com algum tipo de ação ou simplesmente viver em um vazio. O fazer é o que nos torna humanos, não somos apenas instinto, pois o fazer instintivo, sim, é parte de um ciclo natural.  A natureza depende dessa repetição para manter a sua harmonia.

Dessa forma, o fazer do homem, por mais recorrente que pareça, sempre irá transformar o mundo. A tarefa do inesquecível Aureliano Buendía era na verdade um círculo virtuoso, afinal, as moedas, antes agentes de discórdia,  ao passar por suas mãos se tornavam magníficos peixinhos de ouro.

Robert de Andrade

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