Fábio Almeida

Foi assim…

          Bem, “…eu num sei, só sei que foi assim…”

          Parte de um segmento da sociedade mineira resolveu promover um mega evento, sem motivo, na zona nobre da periferia de Belo Horizonte.

          Sem citar nomes, para não gerar possíveis processos futuros, segue um relato fiel dos sucessivos episódios que marcaram o evento. Evento este que, graças a Deus, não terminou em morte.

          Tudo foi idealizado por um grupo de intelectuais e investidores que, reunidos num boteco da periferia da princesinha de Belo Horizonte – “New Gaymeleira” –, resolveu promover um super evento que ficaria registrado nos anais da sociedade belorizontina.

          O próprio grupo nomeou-se comissão, a famosa comissão de organização, formada pelo diretor-geral, que ficou encarregado da logística do evento, o diretor financeiro, que, claro, ficou encarregado das finanças, a diretora social, que ficou responsável pelos contatos sociais e lista de convidados, e a assessoria de comunicação – uma repórter picareta, diga-se de passagem, que ficou encarregada de fazer a divulgação do evento, contato com autoridades, convidados especiais etc.

          A maquete ficou linda de morrer, só “cê” vendo. Os fundos, caixa 2, foram arrecadados com uma grande empresa – fantasma – de representação de madeira, localizada nas imediações do aeroporto, próximo à Av. Vilarinho, e com uma sólida firma clandestina de calhas e baldes/chuveiros, que inovava em tecnologia, mas não tinha endereço fixo.

         Quando tudo parecia encaminhando para a realização, com sucesso, da grande festa, as ocorrências começaram a suceder.

         Primeiramente, os patrocinadores – aquelas duas empresas – não honraram com 100%, aliás, nem 10% dos compromissos firmados. O diretor financeiro – que se soube depois, já tinha se envolvido na operação “Anaconda” – fugiu para Manaus com a outra parte da arrecadação, num vôo corujão da Varig, cuja passagem custou R$ 1,00, paga com o dinheiro surrupiado do evento.

          A assessora de eventos “cagou goma”, falou que usaria de influências e prometeu levar o elenco da “Grande Família” para filmar um episódio durante o evento, bem como a Regina Casé para fazer, ao vivo, o seu programa “Central da Periferia”.

          “Nem Sansão nem Dalila”, quem ela trouxe na ultima hora foi a charanga de um time de várzea, e uma Kombi cheia de representantes dessa torcida – só “a nata” –, que comeram, beberam e ainda fizeram um arrastão que não sobrou nem documento nem bijuteria, pois jóia e dinheiro, o povo que tava na festa também não tinha.

          A lingüiça toscana, de R$2,30, o quilo, e os três quilos de acém, fazendo as vezes de picanha, acabaram no primeiro quarto de hora. O que era para ser Bohemia, mas foi Skin o tempo todo, secou na segunda rodada, porém há quem afirme ter visto um dos organizadores colocando duas grades cheias de cerveja no porta malas de uma Belina. W, azul, blindada.

          A diretora social, que ficou de recolher uma contribuição simbólica dos convidados, tomou oito garrafas de Nova Skin sozinha, ficou “acompanhada”, deixou “os” povo ir embora sem contribuir, e ainda levar cinco facas de R$1,99.

          O dono do estabelecimento – o bar próximo –, que forneceu as guarnições para o evento, apareceu lá pelas tantas, querendo receber o combinado, e quando constatou que não ia ver a cor do numerário, começou um brigão – Deus me livre –, que envolveu todo mundo e ficou mais agitado que o arrastão da torcida organizada.

          A estripulia só terminou com a chegada de duas viaturas e os “pulícia” distribuindo “carinho” pra todo lado. O “furdúncio” foi dispersado, os lideres do movimento enquadrados em três artigos contra a ordem pública. Levaram os dois diretores, que dizem, é um casal, para Lagoinha, onde os mesmos prestaram depoimento, “tocaram piano”, pagaram fiança (deixaram um “bom para…”), com direito a responderem ao processo em liberdade.

          Ah! A repórter, aquela, deu um carteiraço na hora do brigão, saiu de fininho, pegou um metrô e foi parar lá na Vilarinho, onde pediu guarida pro dono daquela empresa de representação de madeira, até a poeira baixar.

          Tudo isso, dizem, no fatídico domingo de 10 de setembro de 2006. 

          Bem, “… eu num sei não, só sei que foi assim…”

Fábio Almeida

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