Robert de Andrade

Joga no time e torce contra

Fez cinco séries e cinco repetições no supino reto, com uma carga de 160 kg. Saltou feito um bicho do aparelho e foi dar uma conferida no espelho, assim que ele queria ser o tempo topo: músculos inchados, quase rasgando a pele. Noutro canto da academia seus amigos discutiam calorosos, sabe-se lá o que. Porra, ele nunca ficava fora de um bate-boca.

“O que que tá pegando nessa porra aí?”

“Eles aprovaram casamento de viado”

“Aprovaram porra nenhuma”

“Passou agora na TV, Marcelão ”

“Então, agora as bichas vão apanhar dobrado!”, gritou bem alto, pois sabia que em todo lugar existe pelo menos um homossexual.

Como sempre fazia nos seus momentos de ira, Marcelão voltou para o supino disposto a destruir seu corpo. Fodão-se os tendões, articulações, os cambaus.

Um pouco mais calmo voltou para a turma.

“Seguinte: viado gosta de ter o lugar deles e com essa porra de casamento gay, eles vão acabar casando todos no mesmo cartório. Aí é só a gente marcar ponto e dar para eles de presente umas fraturas expostas. Fechou?”

“Fechou!”, “já é!”, “tô dentro!”, “vamo acabar com essa safadeza”, todos toparam e se abraçaram numa longa troca de suores.

Marcelão ficou tão empolgado que resolveu malhar até a academia fechar, ou melhor, até quando ele quiser parar, pois o God, dono do lugar, deixou a chave com ele.

Já passava de uma hora da manhã quando Marcelão e Luca, seu grande amigo, foram para o vestiário.

“Você trancou a porta?”, indagou Luca.

“Claro, porra.”

Como, quase, sempre Marcelão foi o ativo.  Tomaram banho em cabines separadas e saíram sem se olhar nos olhos.

Marcelão, embora mantivesse frequentes relações sexuais com outros homens, não se consideravam homossexual, gay, viado ou qualquer outro sinônimo pejorativo. Ele tinha certeza de que não gostava de homens, apenas achava seus glúteos mais rígidos, de maneira que ao contraí-los o parceiro conseguia segurar sua ejaculação precoce.

Robert de Andrade

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