Saudade
E eis que o tempo se embaralha e sobe aos olhos a água de uma chuva que um dia molhou negros cabelos.
O pescoço enrijece e a boca se contorce com o amargor de um adeus, intempestivo então, mas que agora pode transmutar-se em terno sorriso de olhar perdido em inesquecíveis curvas de mulher. Deltas, encostas macias que um dia te acolheram e te revelaram tantos cheiros e gostos únicos, que um a um ora tomam suas narinas, molham sua boca e te dão de novo aquela sensação de céu…
Os braços se contraem ao lembrar os abraços de pai e você até parece ouvir sua mãe te tirando da brincadeira ao chamá-lo para almoçar…
Malditos os que amaldiçoam nossa expulsão do paraíso, quando vencemos o tempo, lhe roubamos a memória e possuímos a saudade.
Barroso da Costa
Os Impublicáveis