Textos de colaboradores

Brasil, um país de bobos!

Na pantomima das eleições tupiniquins, anunciamos, no picadeiro impublicável, o desabafo de Renan Carlos Antunes.

Nessas eleições assistimos a uma espetacularização do ridículo, a permear o processo democrático brasileiro. Nunca na história do Brasil, de forma tão explícita, a democracia foi palco para a ignorância. Um sistema político tecnicamente tão avançado como o nosso foi mais uma vez usado para alavancar individualidades e fomentar o fisiologismo de quem enxerga nos cargos eletivos uma simples possibilidade de emprego. Dói no coração o que me chega aos ouvidos.

Artistas de televisão, jogadores de futebol e tantos outros que de uma forma ou de outra estão na mídia se candidataram, sem, no entanto, preparo algum. Aliás, este foi o caso do senhor Francisco Everardo de Oliveira Silva, o Tiririca. Com uma tremenda cara-de-pau, o senhor Tiririca disse no horário eleitoral de São Paulo – em imagens amplamente divulgadas na internet – não estar preparado para ser Deputado Federal; disse não saber o que um deputado faz, contou que quer se eleger para lutar pelos interesses econômicos de sua família, se auto-nomeou como o candidato mais lindo (como se beleza fosse um padrão a ser levado em consideração), dentre tantas outras coisas que disse e que dão tristeza e vergonha só de pensar em falar.

Diante de um discurso tão irônico, afinal de contas, o senhor Tiririca estava chamando os caros eleitores de burros, ou melhor, de bobos, pois ele fez do palanque uma extensão de seu picadeiro. Mas, senhoras e senhores, pasmem, o senhor Tiririca foi o deputado federal eleito com o maior número de votos no Brasil, e o segundo deputado mais votado em toda a história de São Paulo.

Nesse contexto, fica a pergunta: o problema está no Tiririca ou em quem o elegeu? Ora, nele não poderia estar, pois, diante de sua ignorância política lhe restou usar a honestidade, e parece que deu certo. Fico pensando se a sociedade gosta de sinceridades como a do Tiririca. É ingênuo pensar que a sociedade não conseguiu ver a intenção de Tiririca ao se eleger, aliás muito bem exposta em sua campanha. Acho que Freud explica isso: o povo, ao eleger Tiririca, nele se projetou, investindo-lhe interesses do próprio ego. Afinal, todos querem se dar bem na vida…

O problema é que, no picadeiro legislativo, diante de tanta palhaçada, tudo se mistura e os que foram eleitos acabam não sendo vistos como governantes, líderes, pessoas que têm o destino de nosso país nas mãos.

Seria interessante fazer uma pesquisa em São Paulo, só para perguntar quem gostaria de ter Tiririca como seu patrão, sabendo que ele mesmo disse não saber o que um patrão faz. Imagine o Tiririca como gerente de banco, executivo de multinacional, dono de posto de gasolina: você riu? Pois bem, ele foi mais esperto e conseguiu ser mais do que isso, pois em nenhuma multinacional, banco ou posto de gasolina ele irá ter maior número de pessoas sob a tutela de seu poder, sob o resultado do esforço de seu intelecto.

Talvez Tiririca use a criatividade que usou para criar piadas ao criar leis. E quem sabe elas sejam tão engraçadas quanto as outras, que nem são tão engraçadas assim. Uma coisa é certa, escrevê-las ele não vai, afinal de contas, alguém com o raciocínio tão rápido quanto o dele não possui punhos tão ágeis para a escrita. Talvez Tiririca, ao fazer sua leitura, seja tão metódico na análise de frases e palavras que acaba sendo necessário que alguém leia para ele, forçando-o a não levar em consideração erros morfossintáticos, pois seus olhos não suportam erros morfológicos.

Uma coisa é certa, Tiririca deu outro contorno a uma propaganda eleitoral criada pelo governo federal. A campanha, ao demonstrar que o Brasil é um país democrático, criou a seguinte frase: Brasil, um país de todos. Tiririca (nome do palhaço criado pelo senhor Francisco, que ele mesmo interpreta), ao se eleger proporcionando tanta alegria e distração, transformou o Brasil sim… mas em um país de bobos.

Renan Carlos Antunes

Previous post

tão brasileira magia

Next post

o biscoito