Robert de Andrade

Pink Flamingos: nem pense em achar esse título singelo

Um amigo me disse que a cena mais bizarra de Pink Flamingos “é aquela transa no meio das galinhas”. Minha mulher diz que a transa bestial não é nada perto da “dança do cu”. O vendedor de ovos, o aniversário de Divine, a antropofagia grupal… Não adianta tentar encontrar a cena mais esquisita ou mais surpreendente do filme.

Pink Flamingo foi lançado em 1972 no circuito underground, onde alcançou extraordinário sucesso e tornou-se ícone do cinema bizarro. O filme mostra a trajetória da drag-queen Divine e sua família, que, juntos, travam uma disputa contra o casal Connie e Raymond Marble pelo posto de “pessoas mais sujas do mundo”. O casal escalafobético usa das mais insólitas artimanhas para eliminar Divine.

Repleto de bizarrices como a manutenção em cativeiro de jovens moças, que seriam estupradas e teriam suas crianças vendidas a casais de lésbicas, o filme desenvolve-se numa profusão de excentricidades, que se emaranham na construção da trama simples, porém inusitada, do filme, cujas cenas dificilmente causariam a mesma impressão se lidas ao invés de assistidas. Com trilha sonora de The Centurions, The Trashmen, Patti Page e Little Richard, o longa de baixo orçamento é marco na carreira do diretor John Waters, e o põe em destaque no cenário de cinema independente.

Vale mencionar que essa comédia/horror, com status de cult movie, emergiu num contexto histórico-político marcado pelas diversas manifestações que ocorriam pelo mundo, principalmente nos Estados Unidos, com destaque para o Flower Power, Black Power, Gay Power, Women’s Lib etc. Tal contexto também explica o porquê de Pink Flamingos ter atraído um público formado por adolescentes e universitários, que viam na obra uma voz da contra-cultura.

Robert de Andrade

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