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Impublicáveis

Tudo que é bom é imoral, é ilegal e impublicável. É verdade que se trata de um trocadilho salafrário com o nome desta revista, e o refrão de uma musiquinha yê yê yê,  mas não poderíamos nos esquivar de falar nestas toscas páginas de vetos e censuras. Não é necessário o leitor virar a página com medo de ler mais uma história de Chico Buarque, Geraldo Vandré e a saga do jornal Pasquim. Sem obviamente desmerecer as histórias destas ilustres figuras, mas é que a dita já está mole de tanto ouvir falar de ditadura.

Podemos trocar essas finas flores da burguesia carioca (dos anos 60) pelos favelados contemporâneos desta mesma cidade, que descobriram na “impublicação” um grande e lucrativo segmento de mercado. Ou vão dizer que os proibidões do Funk não geram às suas cifra$? É tudo paralelo, inclusive a contabilidade. E a força da disseminação deste gênero está justamente na proibição. Se pensarmos bem, não seria tão irônico ou delirante pensar que censuras e vetos são na verdade estratégias de marketing que usam de psicologia invertida para tocar o público. Viajei né?

Talvez não. Lembro-me que quanto mais eram proibidos os shows do extinto Planet Hemp, maior era a tiragem do CD, a divulgação da banda, e o movimento das bocas de fumo. Tiro pela culatra ou cooperação entre mercados? Tudo é valido, mas nem sempre publicável. Gabriel o Pensador pensou direitinho e fez uma música assassinando o chefe de sua mãe a jornalista Belisa Ribeiro, que trabalhou como assessora de imprensa, do então já assassinado politicamente, ex-presidente Fernando Collor. Histerias à parte e a sua singela homenagem foi censurada. Acabava de nascer uma estrela. 

Os censurados ganham uma áurea mística e revolucionária que muitas vezes são desproporcionais ao que querem propor. Tornam-se heróis de uma causa comercialmente elaborada. Para ilustrar isso temos o Marcelo D2. No inicio de sua carreira, algumas de suas músicas faziam críticas pesadas à indústria cervejeira, e menos de um ano depois, estrelou um comercial da Brahma. Depois acusam o João Gordo de trair o movimento.

Censurar é divulgar. E para esta revista que já é um dos eventos mais ousados do jornalismo mineiro (palavras de especialistas) fica a sugestão: cutuque a próstata moral de um figurão qualquer com um dedo de grossa ironia. Vamos torcer para que este se zangue e tente barrar a publicação seguinte, e pronto. Podemos vender os espaços publicitários pelo quíntuplo do valor atual. Deve dar uns dez reais mais ou menos.

 Guilherme Gilliard

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